O relógio corre. Nesta sexta-feira, 15 de junho de 2012, a contagem regressiva aponta exatos dois anos para o primeiro jogo da Copa do Mundo de 2014 no Beira-Rio, a sede gaúcha no maior torneio de futebol do planeta. Se hoje quem passa pela casa do Inter nota as modificações no estádio, houve um momento em que a preocupação tomou conta dos gabinetes e da mente de boa parte dos gaúchos. O impasse entre a Andrade Gutierrez e os vermelhos durou cerca de oito meses, sem a oficialização da parceria que tocaria a reforma. A demora provocou um hiato de 270 dias sem trabalho na modernização do Beira-Rio.
Mas, agora, é nítida a evolução da obra, que corre para se moldar aos padrões exigidos pela Fifa. A antiga entrada principal do estádio está fechada. O barulho das máquinas é ouvido de qualquer ponto do complexo e o pó produzido entra nos pulmões de quem passa.
Ao caminhar por algum dos 60 mil metros quadrados do Beira-Rio, é impossível não se encontrar com alguns dos 280 operários responsáveis por dar uma nova cara à casa colorada. Nesta fase da reforma, o trabalho mais intenso ocorre no anel inferior, que já teve metade de sua estrutura demolida. As antigas cabines de imprensa também não existem mais. O local destinado aos jornalistas agora está na linha lateral do gramado.
Mas não são apenas nos locais perceptíveis ao público que o Inter e a Andrade Gutierrez modificam a área. Um dos principais pontos da reforma diz respeito à modernização das instalações já existentes há anos no Beira-Rio. É o que atesta a arquiteta e membro da comissão de obras do estádio, Diana Raquel Oliveira:
– Estamos mudando as instalações existentes para fazer a definitiva. As instalações elétricas estão defasadas, vamos colocar tudo novo. Não tem como liberar o acabamento sem as instalações. Elas vão nos acompanhar durante toda a obra. Tem também a parte de climatização, como dreno e a elétrica.
Os antigos vestiários da arbitragem e das categorias de base também não existem mais. As cadeiras de plástico do anel superior foram todas retiradas. Agora, os operários tratam de recolher as de ferro, que deverão ser concluídas até o final do mês. Pelos números colorados, o cronograma está de 10% a 20% executado nestes 87 dias de trabalho da empreiteira mineira no Beira-Rio.
Em breve, o atual campo de treino dos profissionais também não será mais utilizado. O local dará espaço à construção do edifício-garagem, que terá capacidade para 3 mil veículos e está em projeto de aprovação. Pela previsão colorada, no segundo semestre deste ano começarão essas obras, que deverão estar prontas em dezembro de 2013.
O novo ambiente de trabalho de Dorival e seus comandados será nos campos do Parque Gigante, sede social do clube, localizada do outro lado da Avenida Beira-Rio. A previsão é de que a mudança ocorra em até um mês.
Cobertura começa ainda em 2012
Ainda neste ano, serão executadas a demolição da marquise e a construção da cobertura do Beira-Rio, considerada a parte mais grandiosa da reforma. Apesar do prazo curto, Diana garante que não há qualquer possibilidade de não ficar pronta, até por estar no projeto entregue à Fifa:
– A cobertura começará ainda neste ano, mas ela é realizada em módulos. Metade deles vem pronto e a outra precisa ser feita. Cada módulo dos 60 gomos da estrutura terá 30 metros de altura e 50 metros de profundidade. Será algo gigantesco, mas é um processo mais demorado.
Time buscará novo local para mandar seus jogos
Para 2013, está prevista a construção das novas cabines de imprensa. Elas ficarão onde são hoje as tribunas de honra. Além disso, ocorrerão as modificações nos gramados e a colocação das cadeiras, que deverão acontecer no segundo semestre do próximo ano. O que fará o Inter ter de mudar de residência:
– Inevitavelmente, precisaremos jogar fora de casa. Já estamos fazendo algumas análises de outros locais, que apresentem capacidade mínima necessária, conforto e estrutura para o nosso torcedor.
Diana revela que, com a finalização das obras, o Beira-Rio ganhará 30 mil metros quadrados de nova área, chegando a 90 mil metros quadrados. Ela ainda entende que, mesmo ainda não tendo nada marcado, alguma celebração deverá ser realizada quando a reforma for finalizada:
– O momento sugere uma comemoração. E o clube deve realizar um evento de confraternização.
Os problemas
Como não poderia deixar de ser, a reforma apresenta transtornos para torcedores, grupo profissional e jornalistas. Na entrevista coletiva de D'Alessandro, realizada no último dia 6 de junho, a sala de imprensa estava sem luz e o camisa 10 teve de falar em frente ao vestiário dos profissionais. Além disso, não é raro que, durante as entrevistas, os barulhos das máquinas atrapalhem as conversas. Na última terça-feira, Jajá tentava responder às perguntas, quando o som da trepidação chamou a atenção do meia-atacante:
– É um terremoto, hein? – disse bem-humorado.
Antes disso, no dia 24 de maio, o Ministério Público ajuizou uma ação civil pública pedindo a interdição do Beira-Rio. De acordo com a Promotoria de Justiça de Habitação e Defesa da Ordem Urbanística de Porto Alegre, as edificações não possuem alvará de prevenção e proteção contra incêndios. O Inter ainda não se pronunciou oficialmente sobre o assunto.
No confronto contra o São Paulo, realizado no dia 6 de junho, um fato inusitado atrasou o início da partida. O local destinado aos suplentes e à comissão técnica dos visitantes no Beira-Rio também foi destruído. Um setor improvisado foi colocado atrás do gol, no estilo do Estádio de São Januário. Mas a direção do clube paulista exigiu que o setor ficasse na lateral do gramado, assim como o do Inter.
Estes problemas não foram os únicos enfrentados pelo Inter neste período. Desde maio de 2009, o clube sabe que o Beira-Rio seria uma das sedes da Copa. E, assim, precisaria apresentar um modelo de reformas para atender às exigências da Fifa.
A ideia inicial era de bancar a reforma com recursos próprios, mas os colorados não conseguiram apresentar as garantias pedidas pela entidade. No dia 21 de março de 2011, o Conselho Deliberativo do clube aprovou por unanimidade o modelo de parcerias para a reforma do estádio. Quase dois meses depois, no dia 13 de maio, o Inter escolheu a Andrade Gutierrez como parceira para as reformas.
Impasse Inter x AG
O que parecia que agilizaria o processo se traduziu no começo de um verdadeiro calvário. À espera da assinatura do contrato com a empreiteira mineira, o clube gaúcho interrompeu as obras no dia 24 de junho. A demora foi tanta que, em 20 de outubro do ano passado, o Beira-Rio acabou alijado da Copa das Confederações. O contrato com a AG só acabou aprovado pelo Conselho no dia 15 de dezembro, mas o acerto ocorreu apenas no dia 16 de janeiro.
O impasse só foi encerrado no dia 16 de março, oito meses depois. Naquele dia, o presidente Giovanni Luigi convocou uma reunião extraordinária com a Comissão de Obras. A indecisão da AG já incomodava o dirigente colorado. Após horas de conversas com os colorados e contatos com os diretores da construtora, ocorreu o acordo. O mandatário revelou que estava se preparando para não assinar mais com a construtora e pensava em um "plano b".
– Eu estava pronto para não assinar esse contrato, achei que isso não aconteceria mais. Estávamos trabalhando com uma possibilidade muito forte.
No dia 19 de março, enfim, a parceria foi selada, em pomposa cerimônia realizada no Salão Nobre do Conselho Deliberativo, que contou com mais de 500 pessoas, entre conselheiros e autoridades. Em seguida, houve queima de fogos de artifício no estádio e a confirmação, por parte da construtora, de que as obras de modernização do Beira-Rio deveriam recomeçar, o que ocorreu.
O Beira-Rio receberá cinco jogos da Copa do Mundo de 2014. Para as partidas do torneio, a capacidade total do estádio será de 51.300 lugares. Depois do evento, o Inter poderá estender até 56 mil lugares com a retirada das cadeiras localizadas atrás das goleiras.
Fonte: Globo Esporte